Nara – A menina disse coisas
Musical sobre Nara Leão segue em temporada agora na Sala Baden Powell, onde estreia no dia 24 de maio. Em cena, Aline Carrocino e Marcos França revivem personagens marcantes em texto de Hugo Sukman e do próprio França
O Brasil conheceu uma cantora que foi popular e contundente – quando unir tais características era possível. E influente, quando isso não era medido por likesou views. E plural, como outras só seriam nos anos 1990. E corajosa, tanto por dar voz a canções que criticavam as mazelas do país quanto por suas declarações, muitas delas contra o governo militar de então. Essa cantora, única por ser tão multifacetada, era Nara Leão, que saiu de cena em 1989, após lutar por anos contra um aneurisma. Nara terá sua vida contada (e cantada) no teatro. “Nara – A menina disse coisas” é um musical escrito pelo jornalista Hugo Sukman em parceria com o diretor e ator Marcos França, dupla do elogiado “Deixa a dor por minha conta”, sobre Sidney Miller. A personagem será vivida por Aline Carrocino, também produtora da montagem, idealizada pelo jornalista Christovam de Chevalier. Aline divide a cena com França, que personifica os papéis masculinos, e mais três músicos. A montagem tem direção artística de Priscila Vidca e musical de Guilherme Borges, e, após bem-sucedida temporada no Teatro Ipanema, segue para a Sala Baden Powell, em Copacabana, onde poderá ser assistida de 24 de maio a 15 de junho, sempre às quintas e sextas, às 20h.
O texto aborda momentos marcantes da vida da artista entremeando-os com mais de 15 canções, todas significativas do seu repertório. O ponto de partida é um show de Carlos Lyra em idos dos anos 80, quando o cantor é surpreendido pela presença de Nara na platéia. Ela sobe ao palco e, na hora de cantar, tem um dos seus lapsos de memória, mais e mais comuns. Essa característica é o artifício para a primeira das muitas mudanças de tempo na trama. E a vida da cantora começa a ser esmiuçada, sem, contudo, seguir uma ordem cronológica. Entre as passagens, sua emancipação aos 16 anos (seu pai defendeu a independência feminina), seu encontro com Ronaldo Bôscoli, com quem romperia relações em seguida (e consequentemente com a bossa nova), a descoberta do aneurisma, sua aproximação do samba de morro, das canções de protesto, da Tropicália e o exílio na França, de onde, volta apaziguada com a bossa nova e com outros clássicos do cancioneiro brasileiro, os quais visitaria já consagrada.
Nara tinha o hábito de anotar alguns de seus sonhos num caderno. E parte desses registros também foi usada pelos autores, que os costuram a declarações da artista, muitas delas à grande imprensa, além de fontes outras como o poema escrito por Carlos Drummond de Andrade para a cantora – e do qual os autores tiraram o título para o musical. Drummond é, aliás, um dos muitos personagens interpretados por Marcos França, que dá voz também ao pai de Nara e a nomes como Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli, entre outros tantos.
E as dualidades enfrentadas por Nara estão todas ali. Talvez a principal delas seja entre a figura humana e a persona artística. “Não sou musa de nada!”, declara num dado momento. E em se tratando de um musical, as canções são peças-chaves. O roteiro inclui temas como “Primavera” (Lyra e Vinicius), “Carcará” (João do Vale, do emblemático show “Opinião”), “Se é tarde me perdoa” (Lyra e Bôscoli) e canções daquele que foi o compositor mais presente no repertório da intérprete: Chico Buarque. São músicas como “João e Maria”, “Soneto”, “História de uma gata” (do musical “Os saltimbancos”, apresentado no hoje extinto Canecão) e, claro, “A banda”, a primeira das muitas canções que gravaria do autor. O compacto com essa música, vale dizer, vendeu 50 mil cópias – feito que desbancou Frank Sinatra na época.
Desbancar o cantor favorito de Bôscoli foi apenas um dos muitos feitos de Nara Leão. Uma cantora que abriu portas para suas colegas de geração e às vindouras. Uma mulher que não se deixou calar ou abater – nem nos seus momentos finais. Se alguém perguntar por ela, é só dizer que está logo ali, na Sala Baden Powell.
Ficha técnica:
Idealização: Christovam de Chevalier
Dramaturgia: Hugo Sukman e Marcos França
Direção: Priscila Vidca
Direção Musical: Guilherme Borges
Elenco: Aline Carrocino e Marcos França
Iluminação: Paulo César Medeiros
Cenário: Pati Faedo
Figurino: Paula Ströher
Desenho de som: Branco Ferreira
Visagismo: Vitor Martinez
Assessoria de Imprensa: Christovam deChevalier
Programação Visual: Cacau Gondomar
Fotografia: Janderson Pires
Direção de Produção: Aline Carrocino (Alce Produções) e Heder Braga
Realização: Aline Carrocino e Guilherme Borges
Serviço:
NARA – A menina disse coisas
Temporada: de 24 de maio a 15 de junho
Dias e hora: quintas e sextas, às 20h
Local: Sala Municipal Baden Powell (Av. N. S. de Copacabana, 360, Copacabana. Tels: 2547-9147. A bilheteria funciona das 14h30m às 21h)
Ingressos: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia)
Capacidade: 469 lugares
Duração: 80 minutos
Indicação: Livre