Fábio Porchat : “Você sabia que o Chico Anysio nunca ganhou um prêmio???”
Fábio Porchat é um dos artistas com maior popularidade atualmente. E não é por menos. Com pouco mais de dez anos de carreira, o ator já coleciona mais sucessos que muitos veteranos. O seu ‘Programa do Porchat’ na TV Record está na terceira temporada e é líder de audiência no horário em que é transmitido. Mas Fábio não se dá por satisfeito; enquanto se projeta no cenário artístico, ele procura estender a mão também aos colegas de profissão.
Idealizador e produtor do Prêmio de Humor, Fábio se diz feliz por prestigiar uma classe de atores até então pouco valorizada. Segundo ele, o ideal seria que as premiações já existentes ‘abraçassem’ os comediantes, mas enquanto isso não acontece ele corre por fora.
Nós conversamos com Fábio semana passada e ele falou um pouco sobre a pouca valorização dos humoristas no que se refere a reconhecimentos públicos.
*Porque um prêmio exclusivamente para os humoristas?
O que acontece é que todos se divertem com os humoristas, todos aplaudem, eles ganham dinheiro, e etc, mas na hora de reconhecer o valor de fato, ninguém reconhece. Aqui no Brasil por exemplo nós temos excelentes comediantes que jamais tiveram esse tipo de reconhecimento. São atores veteranos que nunca se sentiram valorizados dessa forma. Lúcio Mauro, Castrinho, Costinha, enfim, eu poderia falar muitos outros até, é uma infinidade. Aliás, você sabia que o Chico Anysio, com toda a popularidade, nunca ganhou um prêmio? É triste isso.
Ano passado nós fizemos uma bonita homenagem ao Lúcio Mauro. Esse ano estamos fazendo ao Agildo (Ribeiro). E por aí vai.
*Você acha que o público se ressente quando o ator sai da comédia e vai para o drama?
Não, não acho. O que eu creio que aconteça é um certo estranhamento. Você se acostuma a ver um ator numa determinada posição e de repente ele te mostra uma outra faceta. Nós somos múltiplos, não devemos nos prender a um só tipo de interpretação. O que eu acho delicado é quando o ator começa a querer renegar o humor por conta de uma certa desvalorização no mercado. É quando você começa a ouvir de alguns “Ah, eu sou comediante, mas eu faço tudo, inclusive drama”, mas isso na intenção de justificar uma decepção interior.
*Algumas pessoas dizem que os atores veteranos estão perdendo espaço para os jovens comediantes. Você concorda?
Olha, eu acho que esse é um processo natural. A vida é assim. Não é que os mais novos estejam roubando espaço dos outros. O que acontece é que naturalmente vão surgindo novos profissionais, e os mais veteranos vão saindo de cena. Isso vale para médicos, comerciantes, radialistas, etc. Portanto com os comediantes não seria diferente. Mas vale ressaltar que se nós estamos aqui brilhando hoje, devemos isso a eles, a profissionais como o Jô, o Chico, O Lúcio Mauro.
*Muitas pessoas criticaram a nova ‘Escolinha” pelo fato de ter deixado de lado os atores que participaram originalmente, os veteranos…
Então…essa nova formação da ‘Escolinha’ não deixou de lado somente os veteranos. Deixou todo mundo. Porque ali não tinham só veteranos. Tinha a Tássia Camargo, a Claudia Jimenez, a Cláudia Mauro…
*Você não acha que determinados atores tem uma parcela de responsabilidade na desvalorização do seu trabalho pelo fato de se restringirem somente à comédia?
Eu acho que alguns atores ficam somente na comédia, mas não todos. É uma pequena parcela. Você tem o Renato Aragão que só fez o Didi, a Zilda Cardoso com a Catifunda, mas também tem a Ingrid Guimarães, a Heloísa Perissé… Na minha opinião o maior problema é quando você perpetua a visão de que o choro é mais importante ou mais difícil que o riso, o que não é verdade. Fazer rir é extremamente difícil, você fica a um passo de cair no ridículo.
*O formato stand-up também costuma ser muito discriminado por alguns críticos. A que você atribui isso?
Pois é. Você tocou num ponto bacana. Com esse prêmio que criei, eu pretendo fazer exatamente uma democratização de todas as formas de atuação. Eu não aceito nenhum tipo de preconceito no que se refere à comédia. Nessa premiação podem concorrer lado a lado textos de Shakespeare e autores de Stand-up, comédias de improviso e textos de renomados autores internacionais. Talvez algumas pessoas achem ruim porque muitos que sobem ao palco não são necessariamente atores formados, mas tem espaço pra todo mundo, e o público não é bobo; ele sabe muito bem dividir o joio do trigo.
*reportagem e foto : Léo Uliana