Filipe Catto ligado em “Tomada” !
O cantor Filipe Catto partiu para o sucessor de Fôlego (Universal, 2011), álbum precedido pelo EP independente Saga (2009) e pelo CD e DVD ao vivo Entre Cabelos, Olhos e Furacões (Universal, 2013), ciente da expectativa criada em torno de si. Os hits “Saga”, “Adoração” e “Flor da Idade” introduziram no cenário da música popular brasileira um guri de voz singular, capaz de transitar por vários gêneros e sentimentos e arrebatar plateias. A pergunta era: após um início tão promissor, por qual caminho seguir no segundo disco?
O produtor carioca Kassin não titubeou: o foco deveria ser nas canções. Sem aproveitar sobras ou qualquer ideia de trabalhos anteriores, Filipe começou a confeccionar o repertório com essa meta de excelência em mente. E também muito interessado em se conectar com artistas que contribuíram para sua formação musical, de PJ Harvey a Cássia Eller, de Radiohead a Jeff Buckley. No entanto, nenhuma dessas referências é tão perceptível nas soluções musicais de Tomada. O vínculo entre Filipe e seus ídolos está mais na intenção de tocar em feridas, de não evitar assuntos espinhosos, de não fugir da emoção.
O resultado é um álbum que depura o que já impressionava em Fôlego. Há uma coesão no repertório, algo que passa necessariamente pelo esmero da banda base reunida para a gravação, com Pedro Sá na guitarra, Domenico Lancellotti na bateria, Danilo Andrade nos teclados e o próprio produtor Kassin no baixo. Filipe rumou para o Studio Marini, no Rio de Janeiro, com 16 candidatas a um lugar no álbum e foi registrando as que funcionavam mais, até chegar nas 11 faixas da seleção redondinha de Tomada.
Entre as escolhidas, destacam-se composições do próprio artista, como o primeiro single do álbum, “Dias e Noites”, parcerias com dois nomes consolidados da MPB, Pedro Luís é coautor de “Adorador” e Moska, da irresistível “Depois de Amanhã”, cujo arranjo cita a clássica “Can’t Take My Eyes Off You”, presentes inesperados poderosa “Partiu”, da carioca Marina Lima, e releituras de canções como a homenagem a Johnny Alf feita por Caetano Veloso em “Amor Mais Que Discreto”.
Outro achado é “Do Fundo do Coração”, balada pouco valorizada da Gang 90. Para ajudar a recuperar a criação de Júlio Barroso e Taciana Barros, o gaúcho recrutou a cantora Ava Rocha. “Canção e Silêncio”, do jovem cantor e pianista Zé Manoel, de Petrolina (PE), completa a trinca de faixas já registradas por seus autores antes de Tomada.
“Auriflama” foi um pedido de Filipe ao escritor José Eduardo Agualusa. Além de se apaixonar pela canção, o músico gaúcho descobriu, depois, se tratar de uma parceria do angolano com Thalma de Freitas, cantora e atriz hoje radicada em Los Angeles. Ao fazer contato com Thalma, Filipe recebeu outra composição dela (dividida com o cantor Tiganá Santana e o guitarrista Gui Held), “Íris e Arco”. Ambas marcam momentos intensos do disco, ainda que “Um Milhão de Novas Palavras” possa soar mais visceral a alguns ouvidos. A faixa política de Fernando Temporão e César Lacerda era tudo o que Filipe queria cantar nesse momento de país dividido, de ódio e intolerância.
O disco também conta com participações ilustres que adornam Tomada. Luis Carlini, uma lenda da guitarra rock and roll, é presença de destaque em “Pra Você Me Ouvir”, escrita por Filipe, e nas já citadas “Dias e Noites” e “Partiu”, a última também reforçada pelo violão da autora Marina. Outro ás das seis cordas, mas de pegada amazônica, Manoel Cordeiro deixa sua marca em “Adorador”. O filho Felipe Cordeiro reafirma a aura paraense na mesma faixa e também em “Auriflama”, provando que a distância entre o extremo Norte e o extremo Sul não é assim tão grande aqui no Brasil. Já a direção de arte do CD, mais uma vez, é assinada por Filipe (sua reputação nessa seara também está grande – confira quem assinou o projeto gráfico de Rainha dos Raios, de Alice Caymmi e de Euforia, de Pélico). Na capa, uma foto de Gal Oppido diz tudo o que Tomada é: essencial.